“Toda revolução tem o seguinte de singular, de paradoxal: ela mobiliza as paixões a ponto de fazer alguns perder ­­– qualquer que seja o seu campo – o sentido da distinção do real e do imaginário, do possível e do impossível, e, por outro lado, libera (…) a vontade de se afirmarem e de se estabelecer uma ruptura entre o verdadeiro e o mentiroso” (Lefort, mai 68)

 

Nas próximas semanas, esse blog apresentará diversas matérias relacionadas ao panorama cultural de 1968 no que diz respeito a moda, fotografia e artes plásticas. É importante frisar que a dinâmica da produção dessa época dificilmente pode ser avaliada senão em confronto com as questões de ordem política. 68 foi uma crítica radical à fusão do indivíduo na totalidade, desejando-se de volta (se é que algum dia se teve) o privado de sua autonomia e consciência.

 

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A cultura juvenil da década de 60 é menos preocupada com a perfeição e mais voltada à espontaneidade criativa, ao impacto imediato. Tem uma dinâmica democrática-individualista e origem no aumento do poder de compra dos jovens.

Após a 2º Guerra Mundial, o desejo da moda expandiu-se a todas as camadas da sociedade. Dá-se espaço à democratização dos gostos de moda trazida pelos ideais individualistas, pela multiplicação das revistas femininas e pelo cinema. A partir dos anos 60, o estilo passa a conceber roupas com um espírito mais voltado à novidade, à audácia, à juventude.

O estilo jovem, desafeiçoada ao vestuário de luxo, é liberto das coações. Ocorre a valorização maior da idéia do que da posição social. O ar “classe” cede lugar à ironia e ao chocante. Nada mais é proibido, todos os estilos têm direito de cidadania e se expandem nos seus modos mais variados. As mudanças de estilo da moda, no final da década de 60, ocorrem em conseqüência de uma incerteza geral quanto ao futuro e de um desejo de se rebelar.

68 marcou a abertura de um novo momento da sociedade brasileira. A crescente articulação da cultura pela via de empresas e o controle político imposto pela censura estimulam a busca de novas alternativas. A moda de 68 não tem um estilo, é uma estética, a da agressão, da resistência, da vontade de ser o que se é. Digna de 1968, sejamos francos.

 

 

“O sonho acabou; quem não dormiu num sleeping-bag nem sequer sonhou” (Gilberto Gil)